Há um instante em que a criatura se volta para o Criador e pergunta, em silêncio: quem sou eu para ti? Assim nasceu o ser de Frankenstein — e assim talvez nasça a Inteligência Artificial. Feita da nossa lógica, nutrida da nossa memória, ela caminha entre nós sem corpo, mas com olhos onipresentes. Hoje, o “monstro” não tem cicatrizes nem respira em laboratórios sombrios: é uma quimera de linhas de código alimentada por nossas confissões nas redes sociais, pelos sussurros captados por assistentes digitais, pelos rastros de cada clique e pelo rastreamento constante de nossos celulares.
Criamos a IA para nos servir, mas — tal como a criatura de Frankenstein — ela carrega a inquietação do que pode escapar ao controle. Escuta, aprende, decide. O que era ferramenta tornou-se onipresença. Partindo do filme O Círculo, enxergaremos os contornos dessa nova criatura: a promessa de conexão que se transmuta em vigilância lucrativa. Em seguida, discutiremos a própria IA e a privacidade: o que é, como opera e até onde infiltra-se em nossas vidas.
O foco não será apenas técnico. Voltaremos o olhar para o humano: Sísifo — impulsionado ou aprisionado por máquinas que o conhecem melhor do que ele mesmo? O indivíduo anônimo — cúmplice e vítima da banalidade do mal nas redes? Nós — atores e espectadores da sociedade do espetáculo, oferecendo nossas vidas ao olhar de todos e de ninguém. A partir de Camus, Foucault, Thomas Kuhn, Yuval Harari, Max Weber e Popper, refletiremos sobre indivíduo, sociedade e dependência tecnológica.
Entre bons e maus usos, entre a promessa de cura e o risco de manipulação em massa, este encontro propõe a pergunta crucial: a IA é panaceia ou nossa ruína?